Durante décadas, a ideia de sucesso profissional esteve atrelada a um caminho linear: estudar, conseguir um bom emprego, crescer dentro da empresa e, quem sabe, se aposentar por lá. Mas essa lógica vem se desfazendo diante de um novo cenário econômico, tecnológico e cultural. Em seu lugar, cresce o conceito de carreira em portfólio: um modelo em que o profissional atua em diversas frentes ao mesmo tempo, combinando projetos, fontes de renda e identidades profissionais distintas.
Essa transformação não acontece por acaso. A tecnologia permitiu que o trabalho deixasse de ser um lugar fixo e passasse a ser uma atividade fluida. As empresas, por sua vez, demandam cada vez mais especialistas e colaboradores por projeto, ao invés de vínculos longos e generalistas. E, do lado dos profissionais, há uma busca crescente por autonomia, sentido no que se faz e liberdade para explorar diferentes paixões ou habilidades.
O resultado é uma geração que já não se vê como “um cargo”, mas como um conjunto de competências que podem ser aplicadas em diferentes contextos. Um designer que também é consultor de inovação e dá aulas online. Uma advogada que atua como freelancer em causas ambientais e, nas horas vagas, monetiza seu conteúdo em redes sociais. Um engenheiro que desenvolve um aplicativo próprio enquanto presta serviços para startups. Nenhum deles abandonou a carreira tradicional, apenas ampliou seus horizontes.
Adotar uma carreira em portfólio, no entanto, exige mais do que vontade. É preciso desenvolver habilidades de autogestão, planejamento financeiro e posicionamento de marca pessoal. Exige aprender a lidar com a instabilidade, organizar tempo e energia, e construir uma rede de contatos sólida. Não se trata de viver no caos, mas de encontrar um novo equilíbrio entre segurança e liberdade.
No Brasil, essa tendência tem ganhado força não só entre profissionais criativos e da economia digital, mas também entre executivos, professores, consultores e até servidores públicos. A ideia de ter múltiplas ocupações, antes vista como “falta de foco”, agora começa a ser reconhecida como estratégia de diversificação e resiliência. E, em muitos casos, como um caminho para realização pessoal mais autêntica.
É claro que nem todos os setores ou perfis se adaptam com facilidade a esse modelo. Mas o crescimento da carreira em portfólio é um sinal claro de que o trabalho do futuro será cada vez mais personalizado. Menos sobre seguir um molde, mais sobre construir o próprio caminho.
No fim das contas, a pergunta não é mais “o que você faz?”, mas sim: “quais caminhos você está criando com aquilo que sabe fazer?”. A resposta pode não caber em uma única linha de currículo e talvez isso seja justamente o ponto.
Sobre a autora Sarah Venturim Lasso
PhD em Management Engineering pela Technical University of Denmark (DTU) e pós-doutora em Administração pela Fucape Business School. Consultora de negócios, especialista em empreendedorismo internacional e inovação.