O Portal Eliana Gorritti teve o prazer de conversar com a sommelière Andreia Gentilini, que desembarca pela primeira vez em Vitória para participar de um evento exclusivo, em parceria com a Carpe Diem Vinhos. Ao lado da enóloga Juciane Casagrande Doro, Andreia está à frente da renomada vinícola Amitié, que será a grande atração da noite. Confira esse bate papo:
Portal: Amitié nasceu da amizade entre você e Juciane Doro. De que forma essa relação pessoal se reflete nos vinhos que vocês produzem?
Andreia: Minha amizade com a Ju vem de mais de 20 anos no mundo do vinho. Somos da mesma cidade, nascemos no mesmo ano e temos uma afinidade enorme. Eu sou filha de viticultor, me formei como sommelière e administradora, e fui uma das primeiras a cursar enologia na região. A Ju é enóloga de formação. Nos conhecemos durante nossas trajetórias na área executiva — ela em uma vinícola, eu no Instituto Brasileiro do Vinho. Desde então, passamos a trabalhar com o mesmo propósito: divulgar e valorizar o vinho brasileiro. Nossa parceria cresceu a partir dessa conexão profissional e se transformou em amizade verdadeira, que hoje está refletida em cada rótulo da Amitié.
Portal: Vocês escolheram o nome Amitié, que significa amizade. Mas também carregam uma marca de sofisticação. Como equilibrar essa proximidade emocional com a proposta de elegância e inovação?
Andreia: A inovação sempre fez parte do nosso DNA. Desde o início, já ousamos ao lançar nossos primeiros espumantes pela linha clássica, entrando em um mercado dominado por marcas consolidadas. Fomos além na escolha do blend: combinamos 60% de chardonnay, que traz toda a elegância da bebida, com malvasia — uma uva pouco conhecida do público, mas que usamos de forma criativa. Esse blend resultou no nosso Amitié Brut Clássico, que até hoje é o espumante mais vendido e premiado da vinícola.
Portal: A Amitié é também um exemplo de protagonismo feminino no vinho. Você sente que o setor está mais aberto para lideranças femininas?
Andreia: O mundo do vinho sempre foi muito tradicional, geralmente marcado por negócios familiares, passados de pai para filho. Quando fundamos a Amitié, em 2018, praticamente não existiam vinícolas abertas por mulheres com CNPJ registrado. Algumas já atuavam na gestão, mas quase sempre em empresas herdadas. Esse sempre foi um espaço muito masculino, mas isso nunca nos impediu de buscar o nosso lugar. Desde o início, tanto eu quanto a Ju já ocupávamos cargos de liderança nas empresas por onde passamos. Claro que conquistar esse espaço levou tempo, mas conseguimos. Hoje, vemos esse cenário mudar: novas gerações estão chegando, cada vez mais mulheres entrando no setor, e nos sentimos honradas em representar e protagonizar essa transformação em um mercado tão importante.
Portal: Como mulher em uma posição de destaque, que conselhos você daria para jovens profissionais, especialmente mulheres?
Andreia: Acredito que o nosso diferencial sempre foi sair do lugar comum. Nunca me senti em posição de desvantagem. Sempre que entramos em uma reunião, fazemos uma apresentação ou participamos de um evento, nos colocamos de igual para igual, com seriedade, empenho e confiança no que fazemos. O mundo do vinho é um trabalho de longo prazo — nada se constrói do dia para a noite. Por isso, é essencial ter persistência, resiliência e clareza de propósito. E, pra gente, sempre foi muito claro o que não queríamos. Isso nos ajuda a tomar decisões com mais segurança, estar abertas às oportunidades certas e seguir com convicção o caminho que escolhemos.
Portal: Quais são suas expectativas sobre o público capixaba e o mercado local para vinhos premium brasileiros?
Andreia: Essa é a primeira vez que realizamos um evento da Amitié e tenho certeza de que, com a parceria da Carpe Diem, faremos uma bela estreia. Estamos levando nossos produtos-prime — hoje são 31 rótulos no portfólio e 99 premiações internacionais nos principais concursos de vinho do mundo. Para apresentar tudo isso da melhor forma, é fundamental contar com um parceiro forte, que nos conecte com os melhores lugares, as melhores cartas. A ideia é, aos poucos, construir um caminho sólido e duradouro no mercado capixaba.
Portal: O Viognier da Amitié conquistou um feito inédito no Decanter World Wine Awards. O que esse reconhecimento significa para vocês — e para o vinho brasileiro como um todo?
Andreia: Receber a medalha de ouro e 95 pontos no Decanter foi um reconhecimento que nos colocou em outro patamar, mostrando que estávamos no caminho certo, com um vinho de altíssima qualidade. Esse é o primeiro vinho branco brasileiro a conquistar essa medalha, num concurso que avalia mais de 18 mil amostras às cegas. Até hoje, pouquíssimos vinhos brasileiros alcançaram esse feito. Sem dúvida, é um marco histórico para a Amitié.
Portal: A Amitié já está presente em mais de 3 mil pontos de venda no Brasil. Vocês têm planos de expansão internacional mais estruturados?
Andreia: A gente tem um trabalho bem forte no Brasil a ser desenvolvido. Então nesse momento o nosso foco é fortalecer ainda mais o mercado brasileiro e aos pouquinhos sim a gente vai estruturando a expansão internacional.
Portal: Que tendências do mundo do vinho você acredita que vão impactar o setor no Brasil? E como a Amitié se posiciona frente a essas mudanças?
Andreia: A gente está muito atenta a olhar o que está vindo de novo, mencionei a tendência crescente dos vinhos brancos, os espumantes que seguem crescendo todo ano, a gente tem lançamentos e outras novidades que a gente vai trazer em breve ao mercado.
Portal: Você já viajou para mais de 50 países explorando o mundo do vinho. Existe alguma experiência em outra região vinícola que inspirou diretamente um rótulo ou projeto da Amitié?
Andreia: Eu viajei mais de 50 países explorando o mundo do vinho, e eu acho que é o conjunto, o que inspira. Eu sempre falo que no mundo do vinho a gente precisa de duas coisas importantes, que é quilometragem, é rodar o mundo, que nos traz bagagem, visão, entender cada região, como o terroir, como cada produtor se posiciona, é esse olhar mais amplo. E ‘litragem’, falo então quilometragem e litragem, que é degustar muitos vinhos, então é a nossa memória olfativa, saber o que é um vinho característico de cada região, reconhecer a qualidade, os diferenciais, então tudo isso nos ajuda enormemente.
Portal: Por fim, o que você espera que os convidados levem na memória — e no coração — após essa degustação em Vitória?
Andreia: Que levem com carinho a nossa história, que seja algo marcante, que os produtos toquem o coração e a alma das pessoas. Então acho que a conexão do mundo do vinho é uma conexão emocional, então que a nossa história, que a nossa trajetória, o que cada produto carrega, se traduz também nessas memórias que as pessoas vão ter cada vez que encontrarem um dos nossos vinhos, seja numa loja ou numa carta de vinhos.