andreia vermont emociona vitoria com uma noite de lucidez afeto e reflexoes sobre proposito

Andréa Vermont emociona Vitória com uma noite de lucidez, afeto e reflexões sobre propósito

A psicanalista Andréa Vermont encantou o público que lotou o Espaço Patrick Ribeiro, na noite de ontem, com a palestra “Freud explica, eu traduzo”, um convite direto, e por vezes desconcertante, à autoconsciência, ao amor próprio e à coerência entre quem se é e quem se mostra ao mundo.

Com seu humor característico e uma franqueza que aproxima, Vermont abriu a noite com a afirmação que se tornaria o eixo de toda a palestra:

“Eu não falo nada inédito. Nada! Eu falo o óbvio que precisa ser dito. As pessoas sentem necessidade do óbvio.”

Para ela, é exatamente isso que atrai tanta gente ao seu discurso: a clareza desarmante com que devolve às pessoas aquilo que elas já sabem, mas insistem em ignorar.

“Se você é mãe, os filhos precisam do óbvio. O casamento precisa do óbvio. Todo relacionamento precisa do óbvio”, afirmou, arrancando risos cúmplices da plateia.

Apesar da projeção recente nas redes, com mais de 3,3 milhões de seguidores, Andrea fez questão de lembrar que nada mudou em sua essência:

“O meu jeito não mudou. A minha alma não mudou. Apenas o número de seguidores e visualizações. Estou longe de ser uma pop star”, brincou, sempre ressaltando a imensa responsabilidade que vem junto com o grande alcance digital.

Relembrou, divertindo o público, situações inusitadas que vive em eventos, como quando, em Varginha, recebeu cinco seguranças e foi orientada a não tirar fotos. Ela, claro, tirou várias.

“Só duas pessoas me trouxeram transtorno até hoje: a senhora e o Mickey”, lembrou, rindo da fala de um dos seguranças.

Quem é você quando ninguém vê?

A primeira parte da palestra mergulhou na busca pela coerência interna. Andrea provocou o público com perguntas diretas:

“Quem é você quando ninguém vê? Quando as luzes se apagam? Quando você se deita à noite e não precisa performar? Qual o legado que você vai deixar? O quanto sua vida é coerente?”

Segundo ela, quanto maior a distância entre a identidade real e o personagem que cada um performa, maior o risco emocional: “Em pouco tempo, você adoece. A coerência é fundamental.”

O alerta, no entanto, não vinha como bronca, mas como cuidado: “Não é proibido performar. Mas ninguém consegue fazer isso o tempo todo.”

Entre reflexões sobre expectativas, frustrações e autocuidado, Vermont introduziu o que chama de “egoísmo saudável”. Citou Freud, citou Jesus, discutiu amor próprio e responsabilidade emocional:

“Quem não se ama, não ama o outro. Quem não investe em si, não tem como investir no outro. Senão, com o tempo, isso vira cobrança, porque você está dando o que não tem.” E deixou um convite: “Se você não se ama, que esse seja o seu projeto para 2026: se amar e se valorizar!”

Uma história de dor e insistência pela vida

Em um dos momentos mais emocionantes da noite, Andrea compartilhou a perda recente da irmã, há apenas três meses. Uma mulher extremamente ativa, disciplinada e saudável, que sofreu uma parada respiratória após uma sequência de complicações desencadeadas por uma crise de ansiedade:

“Minha irmã não perdeu para a vida. Ela perdeu para ela mesma. Não perca para você.”

A sala inteira pareceu prender a respiração; muitas pessoas choraram, identificando-se com a dor enquanto Vermont descrevia o episódio. Em seguida, ela recuperou o fôlego com a sutileza da reflexão:

“No dia que você morrer, não vai ser feriado. Não vai ter passeata. Qual é o amor que você derrama por você?”

A qualidade dos vínculos

Na segunda parte da palestra, Vermont foi direta: “Não ande com quem você não seria. Risca da sua vida. Risca da sua história.”

Falou sobre desgaste emocional, sobre pessoas que sugam energia e sobre o impacto da convivência no cérebro e no corpo:

“Existe uma pesquisa da neurociência que diz que somos a média das cinco pessoas com quem convivemos. Isso é fato. É real. Os neurônios espelho são ativados, e você começa a se tornar parecido com quem convive. Não se obrigue a manter laços que não agregam.” Com ternura, citou Madre Teresa: “Que todas as pessoas que se encontrarem comigo hoje saiam melhores.” E provocou: “Não dá para perder tempo com quem só quer te diminuir.”

A geração mais frágil que nós criamos

Vermont também comentou sobre a fragilidade emocional das novas gerações. Para ela, os pais, na ânsia de oferecer afeto, erraram na falta de limite:

“Sobra afeto, falta limite. Crescem se achando maravilhosos, perfeitos, são hiper elogiados e quando o mundo não trata assim, desmoronam.”

E foi categórica: “Não há como frustrar sem traumatizar. Mas é impossível existir sem frustração.”

A noite se encaminhou para perguntas que ecoaram no auditório:

“Qual vida você está construindo? Qual impacto você gera no mundo? Para o que você serve? Quando você vence, quem vence com você? O que fica quando você não está? Qual legado você deixa?”

“Somos 8 bilhões de pessoas. Nós não somos nada! Então, qual diferença você faz na vida dos outros?”, provocou.

Citou poemas, filósofos, a própria experiência clínica e encerrou com reflexões que pareceram abraçar todos os presentes:

“Você é feliz? E o que te falta para ser? O que você quer ser quando crescer? A resposta vai determinar os próximos anos da sua vida!”

A plateia saiu como quem acorda de um mergulho profundo: tocada e reorganizando ideias. E, como prometeu no início, Andrea Vermont fez exatamente o que disse que faz, transformou o complexo em simples, o distante em íntimo e o óbvio em revelação.

Leia Também:

PUBLICIDADE