Durante muito tempo, o mercado de trabalho tratou a maternidade como um obstáculo. Mulheres que se tornavam mães eram vistas como menos disponíveis, menos produtivas, menos ambiciosas. Essa mentalidade excludente empurrou muitas mães para fora do mercado formal. E, no silêncio deixado por essa exclusão, nasceu um movimento silencioso e poderoso: o empreendedorismo materno.
Empreender tornou-se, para muitas mulheres, mais do que uma alternativa econômica. É um ato de resistência, reconstrução e autonomia. É a possibilidade de conciliar trabalho e maternidade sem precisar escolher entre um ou outro. Mas apesar de todo o romantismo que muitas vezes envolve o tema, a verdade é que ser mãe e empreendedora ao mesmo tempo é uma das jornadas mais desafiadoras que se pode viver.
A mãe empreendedora precisa lidar com a sobrecarga física e emocional de duas funções que exigem tempo integral. São dias que começam antes do sol nascer e terminam quando a casa finalmente silencia. Ela negocia com fornecedores enquanto embala lancheira. Faz uma planilha com uma mão e segura o bebê com a outra. Toma decisões importantes enquanto administra culpa, cansaço e, muitas vezes, solidão.
Além da jornada dupla (ou tripla), enfrenta a falta de rede de apoio. Poucas têm suporte familiar, acesso a creches ou políticas públicas que aliviam a carga. O acesso a crédito ainda é mais difícil para mulheres, especialmente aquelas com filhos pequenos e histórico profissional interrompido. E, não raro, há julgamento por todos os lados por trabalhar demais, por não trabalhar o suficiente, por “ousar” querer crescer enquanto cuida de uma família.
Há também o peso psicológico. A cobrança para “dar conta de tudo”, a comparação constante com modelos irreais, a culpa materna que insiste em aparecer. E tudo isso dentro de um sistema que ainda valoriza o desempenho masculino como padrão e pouco reconhece as habilidades adquiridas com a maternidade, como empatia, negociação, visão sistêmica e resiliência.
Ainda assim, essas mulheres seguem criando. Negócios que nascem da experiência real, pensados para resolver dores que conhecem de perto. Produtos, serviços e redes que crescem alimentados por propósito e conexão. Muitas vezes, com poucos recursos, mas com muito senso de comunidade e uma vontade enorme de fazer diferente.
O empreendedorismo materno é, antes de tudo, um grito de autonomia. Não é fácil, não é leve, e não deveria ser solitário. Para que mais mães possam empreender com dignidade e sustentabilidade, é urgente criar condições reais: acesso a financiamento, capacitação, políticas públicas de apoio à infância, rede de cuidado compartilhada e um ambiente social que reconheça o valor desse trabalho, dentro e fora de casa.
Empreender enquanto se é mãe é criar no meio do caos, insistir mesmo exausta, acreditar mesmo sem garantias. E talvez por isso tantos negócios maternos tenham propósito, consistência e coragem. Porque quem aprende a cuidar de um ser humano com presença, amor e resiliência, aprende também a cuidar de um negócio com visão, empatia e força.