Setembro chega e com ele, o amarelo. Frases de acolhimento, hashtags de empatia, campanhas sobre saúde mental. É bonito, é necessário. Mas também é difícil. Porque, para além dos posts e das frases bem-intencionadas, há uma realidade crua e silenciosa: estamos exaustos. E, muitas vezes, sozinhas dentro desse cansaço.
A saúde mental entrou em pauta, mas ainda de forma superficial. Fala-se sobre depressão com filtros. Sobre ansiedade com frases motivacionais. Sobre exaustão com dicas de produtividade. E a pressão continua: ser resiliente, ser grata, ser positiva. Como se fosse possível curar feridas profundas com mantras curtos e uma boa agenda.
O problema é que adoecer emocionalmente ainda é visto como fraqueza. Quem para, preocupa. Quem pede ajuda, assusta. Quem diz “não estou bem” é recebido com silêncio constrangido ou conselhos prontos. Poucos sabem ouvir sem tentar consertar. Poucos sabem sustentar o incômodo de ver alguém vulnerável sem tentar empurrar de volta para o modo “funcionando”.
Setembro Amarelo não é sobre performance de empatia. É sobre criar espaços reais de escuta, de pausa, de acolhimento sem julgamento. É sobre entender que a dor psíquica não escolhe idade, profissão, classe social. E que muitas vezes ela se disfarça de eficiência, de simpatia, de produtividade.
Tem gente sorrindo e querendo sumir. Tem gente produzindo e desmoronando por dentro. Tem gente rodeada de pessoas e, ainda assim, se sentindo invisível. A solidão emocional, essa que ninguém vê, é uma das mais perigosas. Porque silencia, adoece e, às vezes, apaga.
Precisamos parar de associar saúde mental com positividade. Cuidar da mente não é sobre pensar feliz, é sobre sentir com verdade. É sobre ter o direito de não dar conta. De não ser forte o tempo todo. De não responder mensagens. De precisar parar. De não saber o que está sentindo e ainda assim merecer acolhimento.
E mais: saúde mental não se cuida sozinho. É preciso política pública, acesso à terapia, rede de apoio, ambientes de trabalho mais humanos. Não basta dizer “cuide da sua saúde mental” sem oferecer estrutura para isso. A responsabilidade não é só individual. É coletiva. É cultural. É institucional.
Neste Setembro Amarelo, e em todos os outros meses, o que precisamos talvez não seja mais motivação. Talvez o que falte seja mais permissão. Permissão para ser humano, para sentir, para não estar bem. Porque o mundo já exige demais de todo mundo, o tempo todo. E o mínimo que deveríamos ter é o direito de parar sem culpa. De existir com verdade. De ser cuidado sem precisar justificar.