solidao invisivel cresce entre mulheres e já afeta saude fisica e emocional

Solidão “invisível” cresce entre mulheres e já afeta saúde física e emocional

A solidão já é considerada um problema global de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 100 pessoas morrem por hora no mundo por causas relacionadas à solidão, um dado que colocou o tema no centro das discussões sobre bem-estar. Mas, entre as mulheres, especialistas observam uma face ainda menos visível desse fenômeno: a solidão que não nasce da falta de pessoas, e sim da falta de vínculos verdadeiros.

Para a psicóloga Michelly Gonçalves, que atua com saúde mental feminina, esse tipo de isolamento é silencioso, sofisticado e, muitas vezes, mascarado por rotinas cheias.

“É uma solidão que se instala mesmo quando todas as agendas estão ocupadas”, explica. Segundo ela, a vida adulta feminina é marcada por um volume crescente de responsabilidades, profissionais, emocionais e familiares, que cria conexões operacionais, mas não necessariamente afetivas.

“Mulheres não estão isoladas por falta de gente, mas por falta de troca qualificada”, afirma Michelly.

Conexões intensas, vínculos frágeis

Mesmo com agendas cheias e intensa vida social, brasileiras relatam sensação de desconexão profunda; fenômeno acompanha avanço da solidão como problema global

De acordo com a psicóloga, muitas mulheres convivem diariamente com colegas, amigos e familiares, mas ainda assim sentem que não pertencem de fato a nenhum espaço. A dinâmica acelera conversas, mas reduz profundidade; multiplica interações, mas não sustenta intimidade.

“Elas conversam, mas não se aprofundam; convivem, mas não se sentem pertencendo; recebem mensagens, mas poucas chegam ao núcleo do que realmente importa”, explica.

Essa desconexão ocorre em paralelo ao aumento das exigências emocionais e produtivas do cotidiano moderno. Com isso, a solidão acaba se infiltrando entre prazos, metas e a constante necessidade de desempenho, criando uma sensação de presença externa e vazio interno.

Impactos diretos na saúde

Os efeitos dessa solidão discreta aparecem no corpo: sono fragmentado, estresse constante, aceleração cardíaca e sensação de esgotamento emocional. Mesmo cercadas de pessoas, muitas mulheres relatam uma espécie de “sobrecarga silenciosa”, que vai se acumulando até provocar sintomas físicos e desgaste psicológico.

“O cotidiano se torna um espaço de interação permanente e, paradoxalmente, de vínculo mínimo”, diz Michelly.

O que pode interromper esse ciclo?

Para a psicóloga, enfrentar o problema exige reconhecer que preencher o tempo não é a mesma coisa que construir relações nutritivas. É preciso buscar vínculos que ofereçam reciprocidade emocional, presença genuína e espaço para vulnerabilidade.

“Só quando abrimos margem para relações que devolvem presença, e não apenas ocupam espaço, é que a solidão se interrompe de verdade”, aponta.

Com foco nesse cenário, Michelly Gonçalves desenvolve programas terapêuticos dedicados à saúde mental feminina, apostando na escuta qualificada como ferramenta para reconstruir laços e fortalecer redes de apoio.

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